Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Casa do Pombal

(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Ali no cimo da íngreme ladeira,
ficava a casa de paredes cercada,
dava-lhe acesso  o portão de madeira
de aldabra negra em ferro, bem forjada.

Abram a porta! - Gritava a avó chamando -
Abram a porta que o pastor quer entrar!
As doces pombas espantavam-se em bando
iam serenas no telhado poisar!

O pátio enorme cheirava a rosmaninho,
a feno verde, a cidra, a hortelã,
os pardalitos pipiavam no ninho
entontecidos com o sol da manhã.

Casa de agricultor! Tanto trabalho
Tanta lida, tanta vida, tanto ardor!
No tempo da azeitona, ceifa ou malho
trabalhavam até o sol se pôr.

Um grilo tonto na lareira escondido,
uma cigarra perdida no pomar,
a tontinegra com o seu alarido
compunham árias em noites de luar.

Vinho o cheiro de mosto do lagar,
vinham sacos de farinha do moinho,
vinha azeite da talha a gotejar,
vinha fruta, hortaliça, pão e vinho.

Primeiro foi a avó que foi embora,
cansada de trabalho e de sofrer.
Em cada mês, em casa dia, em cada hora
doce lugar ficou por preencher.

E houve um dia  em que todos partiram,
malas na mão e na garganta um nó.
Morreram uns, outros logo fugiram
do trabalho da terra feita pó.

Fechou-se a casa, o avô ficou só
alquebrado, queixoso, sem ninguém...
e começou a andar... metia dó...
pela casa dos filhos: um vai/vem...

Envelheceu a casa... em todo o lado
cresciam ervas... tudo era solidão...
Subiam as silvas até ao telhado
e cogumelos enfeitavam o chão...

Mas um dia o milagre aconteceu,
alguém a viu, alguém a desejou
e a casa do Pombal que se perdeu
moradia alegre se tornou.

Casa dos meus avós, das minhas tias,
da minha infância feliz e descuidada.
Passo por ti e só sinto alegrias.
Ao ver tuas paredes restauradas.

Sejam felizes os que lá vivem nela,
os que enfeitaram de flores essa calçada...
fizeram dela uma pousada
e colocaram vasos na janela

E ao subir a íngrime calçada
possa eu ver essa casa florida
que encheu de amor a minha madrugada
pois foi o ninho duma família querida.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009  

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