Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Adolescência



Pediste-me
Que subisse as escadas da vida
E não ficasse
A sós no patamar
Parada
A escutar
Os cânticos da Noite.


- Eram de pedra as minhas mãos pequenas
A cortar os degraus
Que tinha de subir


Falaste de caminhos
Eu sei que há caminhos desenhados
Para além dessa porta da rua
Onde fiquei parada
A escutar os cânticos da Noite…


Eu sei que há caminhos
Onde jamais passei acompanhada


Falaste na janela do meu quarto
E toda eu
Fiquei a cintilar
Quantas estrelas perdidas na estrada!
E quantas delas
Amaram o luar?


Apostara de escrever
O mais belo poema do Mundo…
Apostara de compor
A mais linda de todas as canções…
Ah! Mas quando me viste parada
No patamar
Das escadas da Vida
Senti dentro de mim
Que não iria além
Desta espuma que sou e não serei…
Porque
Eram de pedra as minhas mãos pequenas
A cortar os degraus
Que tenho de subir…

Pediste-me
Que subisse as escadas da Vida…
Eu sei que é bela a Colina do Sol
E que do cimo
Onde os olhos conversam com as nuvens
Se avistam transparências
De oceanos brancos…

Mais alta ainda que a janela verde
Do meu quartinho azul…
Mais longe ainda que o mundo de sonho
Dos meus olhos fechados
De menina cigana
Que nunca andou caminhos
Nem estradas
Nem viu cair estrelas apagadas…
Mais forte ainda que esta força estranha
Que há dentro de mim
E se desfaz nas praias sem marés
Das minhas tardes rubras…
Mais bela ainda que essa canção bela
Que eu sonhei compor…
Enfeitada de pássaros azuis
E de rosas toucadas…
Mais nova que eu própria
É esta certeza toda feita de Amor
Pelo Sol, pego Fogo, pela Vida,
Pelas escadas que tenho de subir
Mais alto ainda, além,
Muito mais alto que a janela do meu quarto…

Pediste-me
Que subisse as escadas da Vida
E não ficasse
A sós no patamar
Parada
A escutar
Os cânticos da Noite…

Ah! Não ficarei
Que eu não sei ficar…
Verás – ó Mãe – como eu hei de subir
Mais alto ainda que a janela verde
Do meu quartinho azul
Pediste-me…
E eu irei…
Que a Vida há de ser toda feita de neve
Que ser adolescente
É ser nova
Pura
Leve…
Que ser adolescente
É não ficar no patamar da escada
Parada
A escutar
Os cânticos da Noite…
Que ser adolescente
É possuir a Vida
De braços estendidos para o Sol
Numa renúncia ardente.


Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.

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